sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

A Trama

Para que seu horror seja perfeito, César, acossado ao pé de uma estátua pelos impacientes punhais de seus amigos, descobre entre os rostos e os aços o de Marco Júnio Bruto, seu protegido, talvez seu filho, e já não se defende, exclamando: "Até tu, meu filho!". Shakespeare e Quevedo recolhem o patético grito.

Ao destino agradam as repetições, as variantes, as simetrias; dezenove séculos depois, no sul da província de Buenos Aires, um gaúcho é agredido por outros gaúchos e, ao cair, reconhece um afilhado seu e lhe diz com mansa reprovação e lenta surpresa (estas palavras devem ser ouvidas, não lidas): "Pero, che!". Matam-no e ele não sabe que morre para que se repita uma cena.

(Jorge Luis Borges)
Obras completas de Jorge Luis Borges, volume 2 / Jorge Luis Borges. - São Paulo : Globo, 2000.

Um comentário:

  1. Sensacional, vc dá um tom gracioso as palavras a ponto de qualquer leitor inveja-las e pensar no mais intimo do coração, eu queria ter escrito isso. Muito bom.

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