segunda-feira, 28 de maio de 2012

Meu Pobre Pessimismo


Eis o espetáculo do mundo. E feliz é aquele que não se contenta. Vivemos em tempos arrepiantes. E tens o ano de minha morte.
É certo que ao longo do tempo vivi sob um véu de candentes expectativas quanto a tudo o que foi produzido por mim, principalmente letras. Produzi e reproduzi estórias, contribuí pobremente com a história, urdi fábulas, sonhos, notas. Mas não sei se tudo isto poderá salvar minha incessante e pungente condição. Um escritor, como outros de meu tempo, não pode se preocupar se deve adequar sua atividade de criação a todas essas novas e bestiais teorias que se criam e nascem nas torres de marfim. Dane-se Flaubert, que no intento de sua mágica produção artística, fez das tripas e coração para encontrar o perfeito dicionário. Naturalmente os críticos não darão braço a torcer. Querem impor uma escola, um grilhão. Logo eu que, escrupulosamente, fugi e não paguei pelo que não queria.
Para nossos antepassados que acreditavam no progresso, moral, inclusive; e para quem achava que abrir uma escola equivalia fechar uma prisão, tragam-nos as famosas pesquisas de opinião, que se escancarem as gavetas das estatísticas! E vejam que nem mesmo o progresso, por um lado parasitário, proporcionou comodidade de vida a todos.
Fizeram da poesia, autêntica madre da criação e enlevo das palavras, reduziram-na a um mero jogo de caracteres programados num computador. Uma máquina que, provavelmente, está mais constrangida que o próprio ser humano. Ora, jamais, eu, um autêntico literaturiado, abandonarei minhas raízes primitivas.
Encanto-me pela forma, pelo poder de achar a força da criação artística em meio a notória indiferença do mundo, que nunca me pediu, sequer, um conto. Os sonhos, que dantes, sonhados por um coletivo, estão relegados a um cárcere ao fundo da mente, sem possibilidades de libertação. Ignoro qualquer tipo de aproximação com a verdade, mas não nego que já ensaiei muitos encontros.
Que não assimilemos os nossos inimigos, que não os transformemos numa espécie de obsessão, num Zahir. Que possamos aprender, quando os têm, de suas astúcias, mas corre-se o risco, sempre, de querer, primeiro, parecer, depois, ser igual a eles.
Quando o amor se torna algo secundário na vida de um homem, este homem também tende a ser secundário. Não é meu objetivo cantar o amor, não é para isto que venho. Os deuses nos deram a morte, o sofrimento para que tenhamos algo para cantar. Todo o canto primário, toda a pequena poesia nasce de uma tragédia, de uma desgraça, toda poesia é metade fatalidade.
O tempo é senhor de conclusões. Tiramos inúmeros significados, por mais imprecisos que nos pareçam, por via de suas próprias amiúdes. O amor, relegado a mera estátua latina do Cupido, já não promove grandes revoluções. Bata-nos perfumar a nuca e tudo está ganho. Basta-nos por um pouco de vaidade e interesses no bolso e ganhamos o mundo.
Nosso pobre individualismo já nos aterra. Cavam nossa fossa todos os dias. Caiam-se os céus, agarro-me ao travesseiro por não querer levantar pela manhã. Descargas de niilismo caem-me sobre a face. Mundo tracejado de insatisfações. Ninguém mais se sente confortável em seu posto de trabalho, se é que algum dia se sentiu.
Morro e não busco motivos para isto. E se alguém sobrevive a este mundo, é um milagre, e se cria de forma mutilada. Esse é seu canto.