sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Marejar

Ploc, plic, plic, ploc... Pinga o pingo marejando a pia.
Pingo, andejo feito correnteza, feito correição. Uma correição que gira em mim. Distante milagre regrado a um adubo natural, geométrico, periférico e eliminador das incertezas de quem o recebe.
Pingo, de múltiplas evocações. Quando pinga de maneira espontânea é um simples pingo. Quando pinga libertino é um perigo. Pingo, de ondas. Por que te afastas?

Não sei, pingo. Acho que tu és bem quisto. Bem quisto de forma a por em evidência este meu desejo de que um dia possa a vir pingar sobre minha áspera couraça, fechando, assim, os poros de minha distração.
Pingo, ninguém ainda, por mais sábio, o desvendou. Tu não és fácil. Jamais poderíamos amarrá-lo ou até mesmo desatar este mistério sonoro que emites. Plic, ploc, plic, ploc... E por mais que tento nunca consigo compreender esta tua linguagem, tão estranha e angustiante como minha própria cabeça. Em meio a madrugada, tu continuas a pingar, pingo. Porque és livre.
Pingo, somente os tolos podem cismar que tu és uma alucinação do espírito. E quanto a mim, nada deixarei equivocar. Eu vi em ti, pingo. Quando não sinto mais este teu pingar, imploro, inutilmente, que o Diabo me carregue.
Pingo, que quando pinga causa um choque nas mais profundas provisões da Terra. Por que continuar mentindo para ti? Plic, ploc, plic, ploc... Uma sinfonia, elevando meu pensar a mais alta adoração ambiciosa de sentimentos. Sentimentos inauditos, surdos, calados, vendados. Necessitando de uma liberdade como a tua, pingo. Pinga quando quer. Pinga na hora que quer. Pinga aqui, pinga lá.
Não posso continuar escravo das ideias, pingo! Quanto mais idealizo, dentro desta distraçao insólita, tenho meus sonhos ofuscados pela madrugada.
Pingo, quando ouço a tua voz escuto o mar. E o mundo se acende. O mundo se destrói. O mundo me transpassa uma calma que não o pertence. Aí, me encovo em tuas asas. Afundo. Vejo a chuva. E o tenho aqui, pingo.


quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Vicejar

Viva, viva que já é hora
Viva, pois pretendo ir embora
Viva, por mais ínfima a tua pequenez
Viva por mim e minha robustez

Viva já
Viva teus olhos que são como o mar
Viva até a vida se acabar

Viva, sente-se aqui, com a voz baixa te contarei histórias
Viva, tirarei do fundo da parca memória

Viva o eu, viva o nós
Viva os girassóis
Viva neste chão
Viva pela solidão

Viva por quem invade
Viva também pelos covardes
Viva os amantes, viva os lençóis
Viva, um grito que perdura entre nós

Viva bem, viva o que vém
Viva aqui, viva por ninguém
Viva neste instante
Viva uma vida errante

Viva acreditando
Viva o desengano
Viva a fantasia que jamais se esvazia
Viva a alegria que alumia

Viva pela chuva
Viva pela lua
Viva sempre
Viva já
Viva neste mar

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Desvelo

Confesso que hoje tive medo em pegar a caneta e começar a escrever. Fiquei horas matutando e buscando motivos sólidos para fazer. Mas eis que chega a hora. Tudo tem sua hora.
Muito se diz sobre a vida, mas, ao mesmo tempo, nada se sabe sobre a mesma. E nesse jogo de amarelinha, onde o indivíduo pula aleatoriamente no tapete da existência, estou eu aqui a contar mais um causo passado.
Esta pessoa, de quem irei falar, muito velou sua vida. Mas no fim quem acabou sendo velada, foi ela. Eu também vivo constantemente fazendo velórios. Quando estou com os músculos contraídos, faço o velório do descanço. Quando a ira me apetece - por futilidades, faço o velório da explosão. Quando a dúvida bate a minha porta, e eu inutilmente atendo, faço o velório da vida. E por fim, a cada deitar do sol, sigo com os velórios.
Acabo por acreditar que não confio em tudo. E por falar, ouço um barulho lá fora, mas não tenho coragem de meter meu nariz no brio da madrugada e ver quem é.
Bom, vamos ao que interessa.
Depois de ir ao encontro desse ser - se é que ele estava me esperando realmente, comecei a acreditar que tenho mais medo de vivo do que de morto.
E assim, adentro o receptáculo turvo e inodor do necrotério. Cinza. Um tímido e opaco - "Meus pêsames" é ouvido a cada instante. Será que as pessoas estavam pesadas? Acho que não, era o morto que pesava. E essas palavras soavam quase que por obrigação, saíam meio entre os dentes.
Nasceu em 1964. Saiu de casa com 12 anos. Se casou aos 17. Teve seu primeiro e único filho aos 21. E morreu com todos. Esses foram os acontecimentos mais marcantes de sua vida, e acaba de ser embalado na redoma do eterno.
Não vejo outra saída. Só consigo escrever com a porta trancada. Já pensei em desistir, mas de que vale? A represa do meu inconsciente não dá vazão, e para não morrer submerso por meu próprio devaneio, sigo em frente.
Olhei. Será que ele olhava pra mim? Só se fosse com os olhos do relento. Mas assim foi melhor. Assim não senti seu olhar, propriamente dito, a se cravar em meu peito.
Talvez eu esteja buscando um porquê de ter ido lá. Mas a vida é assim. Quem sabe um dia ele não venha aqui, e retribua a visita? O confundi, grandemente, com um punhado de areia pousado no fundo de um baú.
Já o sinto aqui. Já o sinto agora. Assim estou me ambandonando. Quem mais me verá? E ele? Já foi dormir.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Lascívia







Caminhando por meu abismal bairro, cortejando pombos e urubus a ciscar o lixo, olhei, vi, parei - ou melhor, não parei, mas tive vontade. Estarrecido, vi novamente. Os dois, inflamados que mais pareciam ter ingerido reagentes químicos, e se naquele momento uma simplória faísca anunciasse a sua emersão, todo bairro estaria a baixo. Imediatamente, pulei na moto, e nem mesmo meu capacete impediu que este estranho parecer viesse a matutar em meu crânio. Segui ferido, ferido pelas mãos que não se aguentavam e gritavam a passagem de uma tormenta de sentimentos impulsivos. Fui. Não exitei. Aguardei a hora. E daí, o resto, está transcrito no que virá a seguir. Este casal - não sei se certamente formam um casal, ou apenas estavam experimentando juntos, ao acaso, as peripécias do prazer.


Eis:


Ele a encontra em uma tarde quente de dezembro. Ambos sentem o ensaio de uma explosão sanguínea banhar suas veias. Esse sentido, meio que antiquado, já se tornou real, eles é que ainda não perceberam. Imediatamente ela arroja seu corpo ao dele, acontecendo assim a imersão. Preenchendo seus espaços ao preço de uma escalada louca em desespero para o monte da vertigem, experimentam juntos, comungam juntos, o ápice da discórdia humana. E transubstanciados, transfigurados, eles se convertem a um arsenal de imagens cravadas na retina desse louco frenesi, rechaçada por este ninho de carne banhado por uma estúpida ternura, e dividem entre si lamentações tórridas. E por fim, pousam sobre folhas de boldo lavadas por um céu azul cristal, contemplando, com suas cabeças nas mãos da graça efêmera, os reflexos de um idioma opaco, que a pouco era o mais que perfeito desenho esboçado pela natureza. Agora, acordados das mais profundas entranhas da terra do prazer, voltam a acreditar que descansam em uma ilha de onde não se quer partir.

(Inspirado na canção: Je me Souviens - Lara Fabian)

domingo, 26 de dezembro de 2010




















NUNCA MENOSPREZE UM PORTA RETRATO, APESAR DE SERVIR DE DEPÓSITO DE POEIRA, ELE DIVIDE O MESMO ESPAÇO QUE VOCÊ.


Novamente a hora chega.
Hoje a lufada de pensamentos oportunos ainda não me transpassou. Estou esperando, quem sabe ele chega, sempre chega. Espero a hora.

Bem, então vamos revirar o baú da elouquencia humana, e relembrar monentos pretéritos.
Este texto, nascido na maternidade de meus pensamentos revoados, é tido com muito estima por minha pessoa. Representou a zarpada de loucura ao relento, fazendo de tudo que vejo e olho, uma inebriante imensidão celeste. Isso mesmo, como o céu. Percebi do nada, do tudo. Isso me faz bem, me sinto relaxado, e meus músculos agradecem quando tomo a vitamina do tempo. Por mais, esse é o texto. Só nasceu por causa de força bruta e pensativa. Parido durante uma das oficinas da ínfima compositora de mentes, a professora Dina (intensas saudades).


“Não é incrível tudo o que pode ter dentro de um...

...Porta Retrato?”


Um porta retrato nunca é um porta retrato, ele é apenas um recorte do que já foi um instante de lembrança. Em um porta retrato cabe uma infinidade de coisas, cabe desde um momento romântico com a namorada, até um fim de semana na companhia da sogra. Ah, um porta retrato... viaja pelo tempo nos fazendo enlouquecer com essa textura fria e penetrante. É como uma rosa de inverno que ao ser congelada, nunca perde a vivacidade de uma paleta de cores.


Um porta retrato é um cargueiro viajante, nos conduz ao mais infinito íntimo de pensamento, recordações que jamais poderíamos guardar vivas em nossas pobres memórias mortais. Carrega-nos em seus reflexos, uma vez que nos propomos a fazer parte de seu mundo.


Um porta retrato é um mar, mais salgado que parece Morto. Fazendo-nos escavar ao mais fundo de nossas emoções, na lembrança de um ser que outrora caminhou junto a nós.


Um porta retrato também é folia, relembra aquilo que no compasso de um ano, virou fantasia. Boas risadas são dadas à companhia de um porta retrato, contemplando esquisitices, hábitos... E até a “execução” de uma marcha nupcial. Tudo isso através das “janelas” de um porta retrato.


Enfim, um porta retrato é o mundo em tamanho compacto. Dentro dele, existe respeito, dignidade... É quase ilusão.



sábado, 25 de dezembro de 2010

Contando as horas

Chegou a hora de falar, de dizer, de publicar. Há uma boa tonelada de razões para resevar esta hora, e escrever aqui, coisas.

Pisei em gramas jamais pisadas, jamais tocadas; audacioso, pude observar a placa reluzente que teimava em me indicar seu intinerário atordoado - "Não pise". Mas pisei, aconteceu, de repente minha lucidez atacou por vontade própria. Achava que não seria a hora, mas me enganei, e foi. Como um lampejo de "curisco" (desculpe).

Bem, lorotas são ditas a todo momento, e estou bem aqui para a aumentar esse bojo, minhas mãos clamam por fazer.

Obrigado por reservar esta hora. Dedicada aos santos letrados e não letrados. Afinal, somos todos analfabetos de espírito. Nossos espirítos não sabem escrever e ditam a todo momento parlentas da sobrevivência. Por sua vez, as mãos são cegas, pois escrevem coisas sem ver ditadas por outrem.

Acho que já estou enchendo linguinça, e como não sou açougueiro, paro.