domingo, 30 de janeiro de 2011

Coisas da Terra

A inigualável e habilidosa prática dos japoneses com as técnicas de manejo do bonsai, não é mito; é um hobby, extremamente exótico, e motivo de orgulho para esta notável nação, pois, exultante, presencia esta ínfima arvorezinha florescer em meio a cubículos desenhados pela modernidade. Por aqui, também existe uma milenar tradição em se cultivar uma certa espécie de vegetal lenhoso. Por conseguinte, acredito, que este atentado costume não seja motivo de orgulho e, quem sabe, um dia, possa vir a se tornar um mito? A técnica da qual falo é a arte de assentar mangferas. Sim, mangueiras, pé de manga. Essas árvores se alastram feito pragas por todos os cantos. Como se já não bastasse o trabalho do qual a natureza se encarrega de realizar por si só, enviando gralhas de maritacas a espirrar tocos de sementes por onde quer que sobrevoem, os famigerados moradores insistem em preservar, cautelosamente, a cultura dessa gigantesca e dorsal árvore.

Para se ter uma noção do tamanho da infestação causada por esta insidiosa prática, outro dia, uma dessas que mais parecem um mamute pré-histórico com seus galhos a atravancarem o vazio, despedaçou-se, e, abruptamente, foi pousar sobre as ondulosas telhas de Dona Feliciana. O pululante nome desta estimada anciã, do qual cunharam-na perante a civilidade, revela a sua denotada e benevolente condição de vida, no entanto, apesar das agruras da vida – como por exemplo, a queda de um anormal e extensivo galho sobre o teto de sua residência, nunca exitou em nos mostrar os pequeninos grãos sintéticos fixados na boca. Pobre. Um aterrador e estrondoso grunhido apeteceu-me justamente na hora das iguarias do meio-dia. Quando voltei a mim, o ancho galho já havia destroçado toda a barraca de telha. Sorte de Dona Feliciana, que não se encontrava no recinto na exata e infortunada hora do esquartejamento.

No fim, acho que toda a sorte foi é minha, isso sim! Por estar dividindo um muro de concreto com a felicidade propriamente dita. Pensei, isso deve funcionar como um amuleto defensor, impedindo que um precipitado chifre de árvore, obsessivamente, se perca no simétrico conjunto de telhas protetoras de minha cabeça.

Um comentário:

  1. Oi, que bom que encontrei o seu blog! Ele é lindo. Estou impressionada como escreve maravilhosamente bem; um presente para os amantes da leitura, como eu.


    Parabéns!!!

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