sábado, 1 de janeiro de 2011

Lavrar

Por que escrevo?

Talvez pra mim, ou satisfazer esta ânsia inaudita que me sussurra dentro.

Já pensei em escrever tudo aquilo que não tenho coragem de dizer - o que é propriamente dito. Como é difícil.

Penso em escrever para o próximo, mas o próximo, por mais próximo, ainda se encontra distante demais de minhas mãos escritoras. Essas minhas mãos! Tão audaciosas, não param de se movimentar, frenéticas, não possuem um mínimo de pudor. Vejam só, apalpam até minhas partes íntimas.

Pelos Céus, por que escrevo?

Com algum fim?

Algum começo?

Começo por aqui?

Começo do começo e termino no fim?

Quem me dera dantes ter escrito.

Paro. Não sou mais egoísta.

Escrevo para compartilhar.

Até mesmo os deuses partilharam suas técnicas tipográficas conosco.

Por falta de força inventiva, não sei.

Meteu-nos goela abaixo estas chaves obtusas, que por vezes limpam o nariz, coçam as orelhas ou tiram o incômodo de um cravo encravado nos pés. Os dedos, miniaturas de gente. E são gente! Não param. Por eles, morrem gente.

Mas desviei o assunto? Por mais, de que importa? No que escrevo só existe indagações, perguntas e inquietações. Quando ergo minhas cordas vocais ao firmamento, ninguém me ouve, ninguém me escuta. Por que tanto espaço? Alguém habita? Estou equivocado, ou os deuses são egoístas? Por que não dividem o céu conosco? E enquanto ninguém me escutar ou responder minhas interpelações, continuo a escrever, escrever e escrever. Criando calos.

E tu, caro escutador. És tu, que lê o que escrevo. Se caso encontrar tais respostas, não as desvie e as faça seguir em minha direção. Confesso, envergo-me em não encontrar respostas. Por quê? Se não esse: escrever, escrever e escrever, some, vira pó, desaparece. E não quero.

No fim, escrevo até a ultima meada de tinta da caneta, até a última resma de papel do armário, até o piscar do cursor deste editor de texto – provavelmente, farei uma salada de letras deste texto, e tu, que o lê, não estás a conhecê-lo em sua originalidade.

Nisso consiste a escrita, sono, chuva, falta de luz e calor.

Parece até o choro de um bebê a latejar em minha cabeça, expulsa os males e devolve-me o direito de existir.

Escrevo, também, por este pedaço de carne que acaba de atravessar meu esôfago e em breve será recebido pelas porosidades de meu estômago.

E por falar em barriga, os sucos de meu corpo correm deslizantes e não param de emitir comandos para que eu não pare de escrever.

Mas, preciso dar um ponto final nisso tudo!

Não posso desbravar noite e madrugada a escrever, assim me tornarei apenas uma caveira sonâmbula noutro dia.

E por último, escrevo para todas as formas de se amar. Para os amantes, namorados, casados, desposados, esposados, ajuntados, amazeados, amulambados. Enfim, por eles que escrevem entre si uma vida de impulsos nervosos, terminando em histórias romanescas e troca de papel de carta.

Estou sufocado, preciso parar, paro agora. Paro por você, por mim, por nós.

E amém Nossa Senhora!

2 comentários:

  1. Thiago,

    curti muito seu blog. E realmente, abri um sorriso quando me deparei com letras tão bem encaixadas por aqui: parabéns.

    Aproveito para te desejar um ótimo 2011.

    Vi que és 'clariceano': isso é bom (!)

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