domingo, 19 de junho de 2011

Esperança, inspiração

De Manhã, acreditamos que, formalmente, é mais um dia que se amanhece.

Neste dia que vos conto, foi mais um desses, mas, para além de minhas esquálidas intenções (porque não possuía (quase) nenhuma até então), aconteceria algo que iria mudar, definitivamente, o rumo do meu dia.

A bússola matinal apontava para algum lugar onde a neblina da manhã de junho não me permitia enxergar. Andei tateando com as pontas do sapato os filetes de pedra que adornam esta mais que infundada rua, onde pombos e urubus, juntos, no mais alto grau do espírito fraterno, disputam restos rejeitados pela ânsia do despejo humano.

Olho diretamente ao chão, coisa que não costumo fazer com freqüência. Na rampa de acesso à minha garagem vejo um inseto, uma coisa seca. Não estava propriamente seca, mas era a sua cor que representava algo seco, sem vida. Agachando mais a fundo, pude notar que era o que, vulgarmente, se conhece por esperança. Uma daquelas já havia passado lá pela minha casa. Muitas vezes. Era bem típica de minhas inquietações. Sempre encenava seus mais deleitosos cânticos por debaixo da minha janela.

Por um momento, parei e pensei. Mas, esperança seca? É, isso mesmo, SECA! A minha, por exemplo, é. E por mais de um instante de luz, senti uma tremenda admiração por aquela criatura. Era a minha esperança posta, bem ali, no chão, há alguns centímetros da minha própria existência. Oh, esperança! Por instantes foste minha!

Longe desta funesta realidade que nos toca, nos forçam a acreditar que, na grande maioria das vezes, a esperança é verde. Verde, madura, cheirando à clorofila. Mas não esqueçamos, jovens viventes deste planeta, que a esperança de muitos é seca!! É farta, da cor de cansaço, intermitente e dissecada. Não me iluda com essas histórias, a esperança que guardei em mim, e que encontrei materializada no chão da minha garagem, através daquele descorado inseto, é SECA. É a minha esperança!

A esperança que, até então, conheci, era bicho de bons presságios, e toda vez que pintava em algum cômodo lá de casa, todos travavam uma tresloucada corrida ao encontro do bicho. Interpelávamos aos nossos anjos da guarda para que nos trouxessem coisas boas, boas coisas, boas novas...

Mas nesta manhã não vi coisas boas, só vi a minha esperança ser esmagada feito algo podre, algo que já estava perecido há milênios, e só faltava chegar uma lancha para friccioná-la feito cera ao chão. Foi o que ocorreu à minha esperança. Mas fui avisado antes, a entomologia já me vinha colocando essas coisas na cabeça. Uma esperança dura, nó máximo, três míseros meses, e isso, se for no verão. E como era junho, sobreviveu apenas umas poucas horas.

Quando regressei à minha casa, no desbotar do dia, ela estava lá. Ainda estava lá, só em corpo, só em carcaça. Mas o seu espírito, talvez, já estava pairando no firmamento, assim como eu também estou. Pois, é esperança...

Um comentário:

  1. Adorando tudo por aqui, tbm escrevo se puder dar uma passadinha lá, e se puder me seguir de volta http://poesiainerente.blogspot.com/

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