Parafraseando Clarice Lispector,
e com a intenção de plagiá-la (porque, acredito, é melhor plagiar os outros do
que a si próprio), a palavra é tudo o quanto possuímos no mundo, um domínio. A
palavra é a "mercadoria" de maior versatilidade que existe: é
comprada, vendida, doada, incentivada, incendiada, apagada, congelada, maltratada,
tratada à pão de ló... Enfim, palavra é palavra. Outro grande aspecto da
palavra é sua indefinição, não há nenhuma palavra que defina a palavra palavra.
Ela é única, sem igual, sem exemplificação, sem definição. Qualquer meio que se
use para defini-la a tornaria limitada e reduzida a um punhado de conceitos
rastejantes em busca de um lugar nos compêndios da vida. Outro aspecto, a
palavra nunca nos abandona, ela é a maior herança deixada por nossos tetravôs,
bisavôs, avôs, pais... E de toda nossa árvore genealógica. Muitas das vezes, só
a palavra salva, ou melhor, SÓ a palavra salva. Ela é a única fonte da qual
provêm aquela mentira ou aquela verdade que, na hora do enforcamento final, nos
salva ou nos emancipa, ou, também, para não dizer que não falei de flores, nos
mata, nos vela e nos enterra. Mas, a palavra é algo que, aos poucos, se eleva
(ou a elevam-na) a um patamar de "privatização". Precisamos libertar
a palavra, a palavra é de todos, a palavra é do mundo. Não há meios de se
prender a palavra. Ou melhor, há sim, na ignorância que é o próprio
aprisionamento que a encerra. Enfim, a palavra alimenta, e mesmo que o estômago
reivindique nutrientes, e nossa boca esteja vazia de matéria concreta, temos a
palavra, no portal da língua, sempre pronta para pular do trampolim da vida.
Façamos o seguinte, palavra é algo para ser trabalhado, é nos dada na condição
de que a usemos e abusemos de sua existência. Precisamos, assim como nossos
patriarcas gregos, resgatar aquilo que dá voz a palavra, ou seja, a própria
palavra; não há necessidade de mais nada, possuindo a palavra já basta. Usemos
de todas as maneiras, de manhã, à noite e também nas trincheiras... Porque há
um uso múltiplo e recíproco, nós a usamos e ela nos usa... Além do mais, e no
fim das contas, a palavra é sempre SUA!
Sentir-se eterno é dilatar o espaço que se estabelece entre as horas e a demolição do corpo. As letras nos servem de escudo contra esta infausta servidão da existência. A hora das letras é o único espaço pelo qual poderemos nos sentir eternos, sem mágoas e marcas de acharmos que não cumprimos, por completo, nossa parcela de esclarecimento do mundo. Venha, sente-se e sinta "A Hora das Letras".
segunda-feira, 18 de junho de 2012
quinta-feira, 14 de junho de 2012
Do Livro dos Sonhos
Os sonhos são as linhas que costuram o mundo. O que é o sonho senão uma extensão da memória e das capacidades criativas do homem? O sonho é mais que uma mera paisagem ou reflexo de imagens nonsenses, o sonho é a legítima dramaturgia da vida.
(Jorge Luis Borges, Buenos Aires, 24 de agosto de 1899 — Genebra, 14 de junho de 1986)
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